Stranger

Aquele momento em que uma pessoa está só. Seja na morte (própria ou a que se inflige ao outro), seja na transitoriedade e na partida, quando a incerteza do próximo passo a põe exposta pela própria fragilidade. E, por isso, fica à mercê de um outro, aterrorizada pela iminência do crime, pela impotência de não poder impedi-lo. Como um pesadelo odioso. Como a vida.

Helicoidal

A coisa nunca tem muito motivo para acontecer. Tudo é resplandecente, solar e lânguido, a gente se entrega a um hedonismo onde o amante é objeto e veículo e, aí, um dia, a coisa (você veja que o que quer que seja a “coisa”: amor, paixão, putaria, ela é sempre um amálgama confuso que não temos coragem de nomear) acaba com o fogo ainda aceso, algumas vezes porque a gente se deixa engolfar pela covardia do roteirinho adaptado, quando é só com um original que a gente sabe que vai ganhar o Oscarzinho pelado. De inho em inho, a mediocridade do drama pessoal mata o amor, quando o amor deveria trucidar o drama pessoal, devorando tudo o que encontra até que não sobre mais nada. O pior é que o que sobra, sobrevive e continua esperando ser devorado em quatro terços até não sobrar nada mais que um átomo do que a gente já tinha sido.

Desenvolvendo músculos

Coordeno um sistema de navegação atrelado a asas invisíveis, que demandam grande esforço dos meus ombros. Pego impulso e estou no ar, agitando meus membros e tentando tomar a direção certa. Na verdade o voo é meu meio de transporte na rotina de todas as manhãs, batendo asas, voando tranças.

Desabafo umbiguista

Raiva, raiva, raiva. Da mediocridade e mesquinharia alheias, sem esquecer da minha própria mediocridade e mesquinharia, que não vou dizer que não as tenho e não as pratico. É raiva da incapacidade crescente de relacionamento que o umbiguismo gerou entre os seres humanos, e que me contamina, também.
É só raiva, que passa. E, post inútil, é prova de que esse blog anda com o propósito meio perdido e pode virar uma ruína, que o tempo vai se encarregando de fazer sumir.